Falta de silos de armazenamento ameaça a superprodução de grãos no Centro-Oeste do Brasil

O Centro-Oeste do Brasil é o maior produtor de grãos do país, mas a região enfrenta um sério problema de falta de silos de armazenamento. Isso está ameaçando a superprodução de grãos, que deve chegar a 118 milhões de toneladas na safra 2022/2023.

A falta de silos de armazenamento está forçando os agricultores a estocar os grãos em condições precárias, o que pode causar perdas de qualidade e quantidade. A reportagem veiculada pelo Jornal Nacional da Rede Globo em 20/07/2023, mostra um problema que afeta não só o Centro-Oeste, mas todo o Brasil. Confira na íntegra:

No Brasil, a safra recorde de grãos tem ajudado a derrubar a inflação e a melhorar o saldo do comércio com os outros países, mas esse desempenho da agricultura expõe um problema crônico da infraestrutura.

Nesta época, as máquinas trabalham todos os dias no campo e elas nunca colheram tantos grãos. A Companhia Nacional de Abastecimento estima uma colheita de 300 milhões de toneladas – 16,5% a mais que em 2022.

Em um grupo agrícola que existe há 40 anos, a previsão é que a safra atual de milho tenha produção recorde. O problema é que não deve ter espaço para guardar todos os grãos.

“A capacidade estática das nossas propriedades, hoje, está em torno de 60 mil toneladas. E sobrou um pouco de soja do ano passado ainda. Esse ano, a gente deve colher em torno 90 mil toneladas de milho. Então, a gente tem aí um déficit grande de armazéns, a gente teve que colocar um pouco de milho em silos bolsas, e um pouco de milho a gente tem até a céu aberto”, conta o agricultor Osvaldo Pasqualotto.

Companhia Nacional de Abastecimento estima uma colheita de 300 milhões de toneladas – 16,5% a mais que em 2022. — Foto: JN

Companhia Nacional de Abastecimento estima uma colheita de 300 milhões de toneladas – 16,5% a mais que em 2022. — Foto: JN

A montanha de milho para fora do armazém do Seu Osvaldo é um desafio enfrentado por vários produtores. Em uma cooperativa que reúne 50 produtores na região de Sorriso, o milho que vem do campo passa pelo processo de secagem e, por falta de espaço no armazém, fica a céu aberto.

O déficit de armazenagem no país é crônico e piora a cada safra – e já tinha sido assunto no Jornal Nacional em agosto de 2022.

Enquanto a produção brasileira de grãos cresce, em média, mais de 9 milhões de toneladas ao ano, a capacidade de armazenagem aumenta só a metade disso.

“No ano passado, o déficit total da capacidade de armazenagem brasileira era de 83 milhões. Esse ano, salta para 118 milhões. É comum e esse ano vai ser mais grave ainda. Se vê milho sendo armazenado a céu aberto, sujeito a ataques de insetos, sujeito a ataques de roedores e, inclusive, a chuvas”, diz Paulo Bertolini, presidente da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem.

Enquanto a produção brasileira de grãos cresce, em média, mais de 9 milhões de toneladas ao ano, a capacidade de armazenagem aumenta só a metade disso. — Foto: JN

Enquanto a produção brasileira de grãos cresce, em média, mais de 9 milhões de toneladas ao ano, a capacidade de armazenagem aumenta só a metade disso. — Foto: JN

Além da previsão de safra recorde, a queda no preço dos grãos fez com que os produtores suspendessem as vendas, e isso travou o escoamento. Em Mato Grosso, maior estado produtor, mais de 20% da soja colhida em janeiro ainda ocupa espaço nos armazéns.

“A gente teve uma redução em relação ao ano passado. A gente teve esse ano também a queda dos prêmios dos portos.. E outro ponto que ainda agrava mais: nós estamos falando de produto que é cotado no mercado internacional e o dólar também acaba impactando e puxando o preço desse produto ainda mais para baixo”, explica Cleiton Gauer, do Instituto de Economia Agropecuária de MT.

O Brasil mantém um programa nacional de construção de armazéns, o PCA. Em 2023, o Plano Safra prevê R$ 6,6 bilhões em financiamentos de armazéns no PCA – R$ 1,5 bilhão a mais do que em 2022. A Abimaq estima que o Brasil precisaria investir R$ 15 bilhões em armazéns, todo ano, para dar conta do aumento da produção agrícola.

“Também precisamos desburocratizar esse acesso, principalmente dos agricultores a obter esse financiamento, que vem em boa parte do PCA. É muito longe do de ser suficiente”, afirma Paulo Bertolini,.

O ministro da Agricultura reconhece que a armazenagem é um desafio para o setor.

“Esse déficit de armazenagem precisa ser tirado para dar segurança ao produtor, para a nossa safra não ficar no tempo, e ele também não ficar espremido entre a primeira e a segunda safra, e ter que vender a qualquer preço, porque ele tem colocar a ‘nova safra’”, afirma Carlos Fávaro.

Mas ressalva que há empenho do governo na questão e que o Banco do Brasil e o BNDES dispõem de linhas de crédito para financiamentos:

“É claro que, quando se trata de infraestrutura, de armazenagem, tem um processo, por exemplo, de licenciamento, passa no órgão ambiental. Mas isso é lá para construção, não é para o acesso ao crédito. Então é um processo burocrático que precisa fazer. Mas certamente, por falta de recurso, nenhum produtor vai ficar sem fazer a sua unidade armazenadora”.

Confira a reportagem completa: https://globoplay.globo.com/v/11799310/

Fonte: Falta de silos de armazenamento ameaça a superprodução de grãos no Centro-Oeste do Brasil | Jornal Nacional | G1 (globo.com)